sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A mulher e o aborto

Sento-me num sofá. Cruzo as pernas. Com ternura enrolo-me numa manta quente. Sinto, com algum prazer o cheiro a jasmim vindo do jardim, e sinto alguns raios de sol a baterem-me sobre a cara. É neste ambiente que relaxo e penso em toda a minha vida, em todas as minhas responsabilidades, e penso, quase inevitavelmente, no dia em que me tornarei mãe, no dia em que serei uma mulher completa. Quando se fala em gravidez é quase também inevitável falar em aborto, que à cerca de um ano foi legalizado no nosso país. As opiniões encontram-se divididas, mas a minha desde sempre pendeu para o sim. O sim à liberdade, à esperança, muitas vezes um sim à saúde, ao saber ser. O aborto também passa por uma forma de ser responsável.

Após o ovúlo e o espermatozóide se unirem e até o embrião começar a ter caracteristícas próprias dos humanos são passados 3 meses. Na minha opinião, até esse tempo não ser atingido, a mulher tem todo o direito de opcção, porque certos orgãos indispensáveis para a sobrevivência do bebé não estão minímanente desenvolvidos, como o caso do coração. Talvez o cheiro a jasmim e os raios de sol sejam demasiado suaves para a responsabilidade deste tema.
Portugal é um país em que o cristianismo reina, e como tal, o aborto é "proibido" entre os Cristões. Mesmo depois da legalização o tema aborto continua a ser um tabu para muita gente, especialmente para os mais idosos, que em vez de acreditarem em fontes verdadeiras perferem acreditar no que as revistas cor-de-rosa, ou nisto e aquilo que se disse nas "Tardes da Júlia". Às vezes perferem mesmo acreditar no que "O-padre-que-pensa-que-sabe-biologia" afirmou durante a missa.
Como mulher adolescente, a internet é um dos meus passatempos favoritos. tenho blog, como tantas outras mulheres e adolescentes. Ao percorrer com o olhar um dele deparei-me com o seguinte excerto: "Nós não podiamos ter o nosso bebézinho, nossos pais nos iriam odiar", escrito por uma adolescente de 18 anos do Rio de Janeiro. Agora pergunto-me eu.. será esta atitude uma atitude de protecção ou apenas um acto de desespero? Será que alguma mulher trata por "bebézinho" algo que já não tem dentro de si? O medo da reacção dos pais foi o´facto determinante para o fim daquela não-vida. Faltam condições, falta dinheiro, compreensão, responsabilidade.. Será justo um bebé crescer neste meio? Sobretudo falta ajuda.. Ajuda em ambos os sentidos: fisíco e psicológico. Antes da legalização do aborto muitas mulheres recorriam a Espanha para abortar, ou então faziam-no ilegalmente no nosso país. É neste caso que o cheiro do jasmim se pode misturar com o do limão e dar uma mistura não muito saudável. Quando o físico supera o psicológico a saúde da mulher é gravemente afectada. "Bolas de sangue saíram, bolas e bolas, as paredes do banheiro estavam vermelhas, parecia um filme de terror. No canto do banheiro vi o meu bebézinho tão pequeno.." O relato desta jovem não identificada é um caso que re~lata da melhor forma o perigo para a saúde de um aborto ilegal. O perigo, o medo, a angústia, o desespero de uma jovem que decidiu abortar com medicamentos comprados na internet. Talvez se o aborto fosse legalizado ela não tivesse de passar por tais perigos.

O mundo já não cheira a jasmim. Talvez todas nós devessemos sentarmo-nos mais vezes no sofá da nossa casa, com o sol a nos bater na cara, e pensarmos no nosso futuro. Ser mulher é lutar! Se vários factores nos impedem de ter um bebé o melhor é poupar-lhe a vida em vez de ser desprezado ou mal tratado depois do parto. Ser mulher é também pensar no futuro, pensar na nossa saúde, nos nossos direitos. è ter responsabilidade. Não é usar o aborto como método contraceptivo, mas apenas em caso de emergência.
Ser mulher é não ter ninguém que nos derrote!

1 comentário:

Professor disse...

Avaliação global:
Bom +

Professores: Alice e Paulo